domingo, 1 de março de 2020

Nirvana: Apenas Metade do Caminho



Nirvana: Apenas Metade do Caminho
Nirvana: Apenas Metade do Caminho






Nirvana: Apenas Metade do Caminho
Nirvana: Apenas Metade do Caminho
Arjuna disse: Ó Krishna, primeiro me pedes que renuncie ao trabalho, então passas a recomendar o trabalho com devoção. Poderias agora, por favor, me dizer definitivamente qual dos dois é mais benéfico?” (Bhagavad-gita 5.1)
Renúncia não significa “vazio”. Renúncia é apenas o lado negativo. Quando eu falo: “Não faça isso”, “não faça aquilo”, isso significa não fazer bobagens. “Não faça isso” não significa abandonar as atividades boas. “Não faça isso” diz respeito a não fazer tolices. De modo semelhante, renúncia quer dizer renunciar as atividades materiais.
A filosofia vaishnava visa não apenas parar o contrassenso, mas também iniciar a vida de verdade. O senhor Buddha também queria ter dito essa mesma filosofia, e Shankaracarya também queria ter dito essa mesma filosofia, mas aqueles que eram seus seguidores não tinham força de vontade para compreender o que são atividades espirituais. Por causa disso, não falaram sobre tal coisa, mas simplesmente pararam no nirvana: “Parem com esse contrassenso.”
Aqui, no entanto, Krishna diz que parar o trabalho quer dizer parar de trabalhar com o trabalho sem sentido. O que é trabalho sem sentido? As atividades materiais, o gozo dos sentidos – isso é contrassenso. Por que é contrassenso? Porque é animalesco. Os animais também estão trabalhando para o gozo dos sentidos. O que os animais estão fazendo? O que os pássaros e as bestas estão fazendo? Durante todo o dia, ficam procurando por boa comida e, quando sua barriga está cheia, imediatamente fazem sexo. E à noite eles se juntam para comer, acasalar, comer, acasalar e dormir. Então é isto: dormir, comer e vida sexual – e também temer o inimigo. Atividades materiais são todas a mesma coisa. Você talvez coma pratos excelentes e muito saborosos no restaurante, mas o que é isso? É apenas o ato de comer. Não existe outra filosofia. É apenas a filosofia de comer e nada mais. Pode ser que você se satisfaça com certos tipos de pratos, enquanto o pombo se satisfaz simplesmente com certos grãozinhos. Essa é a única diferença. Contudo, o prazer é comer. O mesmo acontece com o sono. Quando você adormece, você não sabe se está dormindo sobre um colchão muito bom ou sobre o chão. E, algumas vezes, você sonha desta maneira: “Estou dormindo na floresta” ou “Estou dormindo na praia”. Você se esquece de tudo. E quanto a defender, os pombos estão se defendendo com suas asas, e você está se defendendo com a bomba atômica. Assim, não há diferença alguma na qualidade da vida. Então, quando Krishna diz: “Parem com o trabalho”, isso quer dizer parar de trabalhar como os animais, mas não parar de trabalhar como fazem as pessoas que são conscientes de Krishna, não parar de cantar Hare Krishna. O objetivo é este: “Parem com sua vida animalesca e comecem sua vida espiritual.”
Krishna, então, explica o que é melhor: “A Personalidade de Deus respondeu: A renúncia ao trabalho e o trabalho com devoção são bons para obter a libertação. No entanto, entre os dois, o trabalho em serviço devocional é melhor do que a renúncia ao trabalho.” (Bhagavad-gita 5.2)
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Krishna afirma com clareza que o trabalho em serviço devocional é melhor do que a renúncia ao trabalho.
Renúncia ao trabalho e trabalho em serviço devocional são, na prática, a mesma coisa. Quando eu digo: “Não faça isso”, mas você é ativo, “não faça isso” não pode significar que você deve ficar inerte como uma pedra. Porque você não pode parar suas atividades. Isso não é possível. A próxima pergunta será: “Então, o que devo fazer?” Você tem que receber alguma ocupação. Há um exemplo histórico e prático.
Quem já leu sobre a história da Índia, sabe que houve um grande imperador mogol de nome Shah Jahan. Quando Shah Jahan já estava idoso, tinha quatro filhos, os quais começaram a conspirar em relação a quem seria o próximo imperador. Dos quatro, o segundo, chamado Aurangzeb, era o mais astuto. Então, mediante intriga, política e diplomacia, ele matou todos os outros irmãos e, por fim, prendeu o pai idoso. De outra forma, como poderia ser o imperador? Foi mediante conspirações que conseguiu se fazer imperador.
Então, quando Shah Jahan foi preso pela ordem de Aurangzeb, Shah Jahan enlouqueceu: “Aurangzeb, o que estás fazendo? Estás me prendendo? Me mate!” Então, o filho, Aurangzeb, disse: “Bem, eu matei meus irmãos, mas não matarei meu pai. Porém, você ficará preso. Você não pode sair deste Forte de Agra.” O pai, então, enlouqueceu. Ele disse: “Sou o imperador. Eu estava dando ordens, e você interrompeu o meu trabalho. Eu, então, enlouquecerei. Melhor que me mate.” Similarmente, queremos parar as atividades materiais. Pararmos o trabalho material é bom, mas onde está a ocupação positiva? A menos que você tenha uma ocupação positiva, você não consegue parar, ou você enlouquece. Esse é o defeito da filosofia do vazio ou da filosofia impessoal. São as palavras ditas por Shah Jahan: “Eu era o imperador. Eu estava atuando como a pessoa suprema no império. Agora, você está me fazendo parar. Então, ficarei louco.” Portanto, se apenas parar as atividades materiais, sem ter atividades espirituais, a pessoa enlouquece, tal qual Shah Jahan.
Por isso, é preciso que haja atividades espirituais. Você não é capaz de ficar parado. É como uma criança: Ela está brincando, e, se você parar a brincadeira dela, terá que lhe dar alguma ocupação, de imediato. Se você não lhe der uma boa ocupação, ela ficará tristonha e desorientada, e causará grandes problemas.
Então, se você se aplica às atividades da consciência de Krishna, as atividades sem sentido param automaticamente, pois você só pode agir em uma direção. Então, se você trabalha em consciência de Krishna, seu trabalho na consciência material parará automaticamente. Por outro lado, caso você apenas tente parar as atividades materiais, sem nenhuma atividade espiritual, você terá que retornar ao mundo material.
Mas, na verdade, você não pode parar. Você é ativo. Você é uma força viva. É impossível parar. Tente parar uma mera formiga que está indo em determinada direção – apenas tente. Ela irá protestar. Por várias vezes, ela lutará: “Oh! Irei nesta direção. Por que você está me parando?” Com uma criança se dá o mesmo. Quando ela quer pegar algo, e você tenta impedi-la, ela chorará: “Eu quero!” Isso é o sintoma da vida. Como podemos parar com tudo? Isso é impossível. Você tem que se ocupar em atividades melhores. Isso é a consciência de Krishna.
O que você pode renunciar? O que você tem? Isto é conhecimento: O que você tem? Você não tem nada. Tudo pertence a Deus. Mesmo seu corpo não é seu; ele lhe foi dado porque você quis desfrutar de algo materialmente, daí Deus ter-lhe dado um tipo particular de corpo para desfrutar dele. Na realidade, o corpo não é manufaturado por você ou dado por sua produção. Você não consegue produzir um corpo na fábrica. Você pode produzir um imenso avião, mas não pode produzir nem mesmo o corpo de uma formiguinha. Isso não é possível. Portanto, se nem o seu corpo pertence a você, o que você pode renunciar? Qual o significado de “renúncia”? Não há questão de renúncia. O verdadeiro conhecimento é ver que tudo pertence a Deus e deve ser utilizado para o propósito de Deus. Isto é renúncia: nada ser utilizado no gozo dos sentidos. Isto é renúncia: eu renuncio a atitude de buscar a gratificação dos meus sentidos.
Um templo, por exemplo, tem que ser utilizado para o fim pelo qual ele foi estabelecido. Não pode ser utilizado como salão de dança. Similarmente, Deus é supremo e criou você para o prazer dEle, assim como um pai assume a responsabilidade da família. Um homem se casa e se responsabiliza pela esposa, pelos filhos, pela família, pela casa, pelo carro. Por que tantas responsabilidades? Ele poderia ter vivido sozinho, sem gastar um centavo, mas ele assume muitíssimas despesas. Por quê? Para o desfrute dele. Se a esposa é boa, se os filhos são obedientes, ele, então, se sente feliz: “Ah! Tenho uma boa esposa, tenho filhos maravilhoso. Trabalharei para eles.” E, na hora da morte, ele, com alegria, lhes deixa uma imensa propriedade.
De modo semelhante, se Deus criou, é para o desfrute dEle. Então, tente ampliar o desfrute dEle. Não tente você desfrutar. Isso é o serviço devocional. Essa é a sua posição natural, aquilo para o que você se destina. O dedo existe para pegar um bolo gostoso e colocar na boca. Esse é o dever do dedo. Caso o dedo pense: “Por que eu devo colocar ali? Eu vou curtir”, o dedo não consegue sentir prazer. De modo semelhante, você foi criado para o desfrute de Deus, e não para o seu próprio desfrute. Tente entender. Isso é a consciência de Krishna. Dessa maneira, você está em sua posição natural e será feliz. Assim como o dedo fica feliz ao colocar o bolo na boca, você também, simplesmente por servir Krishna, ficará contente. Isso é a consciência de Krishna e o verdadeiro processo para se tornar feliz. Não tente ser feliz de outra maneira, ou você ficará frustrado e confuso. O processo é simples.

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