O que os sonhos podem nos ensinar? Que lições importantes de vida, e até mesmo do despertar espiritual, podemos tirar dos sonhos?
Aqui um trecho de meu livro, “Yoga Sutras Revolução”, publicado em dezembro de 2018:
Enquanto dormimos, experimentamos todos os tipos de situações, mas não há questão de se discutir se elas são percebidas correta ou incorretamente; a experiência em si é a única coisa real. Mesmo o sono profundo e sem sonho é, em si, uma experiência, visto que você acorda e se sente revigorado e renovado graças a isso.
Sonhos são uma oportunidade para olhar para dentro de seu inconsciente. A auto-observação é uma parte integral do caminho do yoga. Quanto melhor você se conhece, mais você pode afinar suas funções mentais para maximizar seu potencial e evitar armadilhas. Tão logo você acorde, tente se ater à sua experiência de sonhos por um ou dois minutos – veja o que você pode tirar disso e o que pode aprender sobre você mesmo.
No Srimad-Bhagavatam, o grande sábio cósmico chamado Narada Muni descreve um tipo especial de sonho que yogis têm, no qual queimam karma por rapidamente absorverem as lições do que, em seus estados despertos, seriam experiências ao longo de muitos anos. Um yogi pode experimentar todo um casamento no sono de uma noite e assimilar as profundas realizações que viriam disso. Ou a pessoa pode experimentar viver em grande luxo e acordar com a profunda realização de que tais prazeres superficiais não significam nada para a alma. Essas são experiências reais que o sujeito recebeu na forma de “karmas-sementes” para serem vividos nesta ou em outra vida, mas que frutificam e são experimentados no reino sutil do sono, poupando o yogi de prolongar sua existência encarnado.
Em um texto ainda mais esotérico, o Caitanya-caritamrta, encontramos um tipo ainda mais raro de sonho, no qual o próprio Deus aparece para uma grande alma a fim de lhe dar instruções diretas, o que acontece, em geral, na forma de uma missão específica a ser cumprida.
Muitos praticantes espirituais experimentaram visões de Deus e do guru em seus sonhos. Contudo, com base em minha própria experiência, em quase todos os casos isso é apenas o eu inconsciente do sonhador usando a imagem figurativamente.
Sonhos são frequentemente mencionados na literatura sagrada por outro motivo: para apontar quão facilmente nós cometemos a tolice de aceitar a ilusão como realidade. Toda noite, vivemos sonhos ricos em toda sorte de experiências, de amor a terror, com animais, pessoas, coisas e lugares. E, no nosso sonho, aceitamos essa experiência como realidade. É apenas quando acordamos que nos damos conta de que nossos sonhos não eram reais, que nosso estado desperto é mais claro e lúcido e que faz mais sentido.
Bem, assim como acordamos todos os dias de uma realidade de sonho para nosso estado desperto mundano, o estado regular; de igual modo, quando praticamos yoga, somos capazes de novamente despertar para nosso estado de existência último: a realidade transcendental. Assim como, ao acordar, você se dá conta de como seus sonhos eram ilusórios; igualmente, ao se despertar espiritualmente, você entenderá a natureza ilusória da vida mundana e que existe outro nível de realidade, o reino transcendental, conhecido no ocidente como “o reino de Deus”. Trata-se do nível derradeiro de realidade, além da existência mundana, similar a um sonho, que experimentamos em nossos corpos materiais. Se isso é difícil de aceitar, basta você pensar no sonho de sua última noite (não é preciso ir mais longe do que isso) para recordar quão facilmente você aceita ilusão como realidade, repetidas vezes.
Outra importante realização a ser extraída dos sonhos é em relação à nossa existência última além da matéria, seja em sonho, sonho profundo ou em nosso estado desperto mundano. Segundo o Srimad-Bhagavatam (11.13.32), “por lembrar e contemplar a sucessão dos estados desperto, em sono e em sono profundo, a entidade viva pode compreender que ela é uma só ao longo dos três estágios de consciência e é transcendental.” Você lerá que essa consciência transcendental é referida como “o quarto estágio”, o quarto e último estágio de consciência.
Alguns comentários tradicionais dos Yoga Sutras consideram que esta quarta flutuação mental se refere exclusivamente ao sono profundo e sem sonhos, a experiência mental de não ter experiência alguma. Sugerem que os sonhos são uma subcategoria da próxima e derradeira função mental: a memória. Contudo, os sonhos são diferentes da percepção correta ou incorreta da realidade, e diferem da imaginação. Eles nos oferecem uma experiência diferente de uma realidade alternativa. Isso, por sua vez, nos provê realizações válidas e conhecimento útil, o que, então, se torna uma parte de quem somos e ajuda a moldar como vemos e interpretamos a vida. Sonhos não são mero sinônimo de lembranças de eventos que aconteceram em nossa vida no passado.
No meu mais novo livro,
“Yoga Sutras Revolução”, você aprenderá muito mais sobre o funcionamento da consciência deste clássico e importante texto do yoga.
Seu amigo,
Giridhari Das
Veja o que estão falando do livro “Yoga Sutras Revolução”: “Os Yoga Sutras de Giridhari Das talvez seja a versão mais divertida e fácil de ler deste texto clássico, entre as dezenas que vi. Até mesmo o layout e as ilustrações do livro tornam a jornada suave, como assistir a alguns filmes realmente bons em um longo voo. A profunda mensagem central dos Yoga Sutras é de fato atemporal, tão relevante e necessária hoje como sempre. E Giridhari Das mostrou, para citar Mary Poppins, que uma colher de açúcar ajuda o remédio a descer.” – Hridayananda Das Goswami Acharyadeva, mestre espiritual e PhD em Sânscrito e Estudos Indianos pela Harvard University
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