Em junho de 2011 foi
publicado na seção "Mitos no Judaísmo III" na Rua Judaica um mito sobre
reencarnação. Devido a quantidade de emails que recebemos para
aprofundarmos no tema, vamos publicar o tema novamente, com uma visão
mais profunda.
O mito: - O judaísmo não preconiza o conceito de a vida após a morte e não considera viável a reencarnação.
Mentira:
A base do judaísmo e da prática da Torah gira em torno da continuidade
espiritual em uma outra dimensão. Segundo a Torah, em inúmeras fontes,
Deus decide quantas chances, e quantas reencarnações, cada pessoa terá
para completar sua meta. Neste mundo tudo permanece oculto — aquele que
faz uma mitzvá (cumpre um ato positivo), ou uma averá (uma transgressão)
permanece idêntico na superfície; não é possível distinguir pela face
quem é um assassino e quem é um benfeitor. A própria palavra em Hebraico
para "mundo" — OLAM — vem da raíz NEELAM, que significa oculto.
Uma visão mais profunda:
REENCARNAÇÃO
Uma alma poderá
regressar a este mundo diversas vezes, em diferentes corpos, e assim
poderá consertar o que a prejudicou em vidas anteriores, ou completar
qualquer assunto que tenha ficado pendente. No final de todo este
caminho, depois de todas as reencarnações, a alma será julgada de acordo
com sua atuação em todas as vidas e situações que viveu em cada uma
delas. Certas condições em que uma pessoa se encontra em sua vida atual
podem ter sido determinadas por atos cometidos em outras vidas. A
propósito, esta é uma das explicações para o fenômeno aparentemente
injusto do sofrimento que ocorre com as pessoas justas (Livro Derech
Hashem, do cabalística Chaim Luzzatto, parte 2 cap.3). Está escrito no
Zohar (Zohar Chadash, Ki Tetsê) — possivelmente serão decretadas algumas
dificuldades na vida do ser humano que em sua vida anterior não tenha
sido tão justo.
Em alguns casos a alma
regressará a este mundo com um novo corpo para fazer determinados
reparos; mas também existe a possibilidade de que uma alma seja
restaurada no próprio plano espiritual, tornando desnecessária a
reencarnação (Zohar, Sh’lach Lechá 162a).
Deus poderá dar uma nova
oportunidade para a alma regressar e concretizar o objetivo destinado
originalmente. Porém, certas condições serão impostas à nova jornada.
Estas condições serão necessárias para retificar os atos realizados na
encarnação anterior. Ao deparar-se com dificuldades em sua vida atual —
concedida como uma oportunidade de reparar o dano em sua vida anterior —
deve-se ter sempre em mente que o mérito de cada ato será proporcional
ao esforço exigido em sua realização. Estas dificuldades exigirão da
pessoa um acréscimo de esforço para superá-las. E, evidentemente, o
reparo para sua alma também será maior, chegando a poder retificar todo o
mal causado em sua vida anterior.
Quantas vezes uma alma pode reencarnar?
A alma de uma pessoa que
não teve o mérito de cumprir sua missão em vida poderá regressar outras
três vezes em outros corpos, porém a alma de um tsadik (o justo, que
cumpriu sua missão) não necessita reencarnar (Marshá Shabat 152,153). No
entanto, caso esteja faltando algum tipo de complemento na sua função, a
alma de uma pessoa justa poderá também reencarnar (Ari Z”l). Se, em sua
quarta vida — ou seja, em sua terceira reencarnação — a pessoa ainda
não se retificou, ela será desqualificada para sempre. Isto acontecerá
somente se não houver absolutamente nenhuma modificação à sua alma
durante seus períodos de vida. O menor indício de que tenha sido
iniciado, em alguma das três reencarnações, a retificação da alma, já é
suficiente para eliminar a possibilidade da desqualificação, abrindo-se
daí em diante um novo leque de reencarnações, no qual se pode regressar
por um número indefinido de vezes. (Ari Z”l, Shaar Haguilgulim,4)
Quem não conhece o
conceito da reencarnação poderá surpreender-se com a existência de
pessoas que, aparentemente, nunca fizeram nada de errado e que, no
entanto, não desfrutam de nenhuma tranqüilidade em suas vidas. Para
enfatizar este conceito, nossos Sábios transmitiram a noção de que o
nascimento dos filhos, o tempo de vida e a fonte do sustento de alguém
não dependem diretamente de seus esforços, mas serão pré-estabelecidos
segundo a função que se terá de exercer durante a sua vida. (Zohar
Pinchas 216)
Por exemplo, certas
crianças nascem com alguma deficiência física, com problemas de saúde ou
com um nível de pobreza excessivo como conseqüência de sua vida
anterior. (Chafets Chaim, Parashat Haazinu)
A alma de um justo às
vezes não completa a sua função, e necessita reencarnar. Seu cônjuge, a
sua alma gêmea, também deverá voltar ao mundo. Caso aconteça que esta
alma retorne sem sua alma gêmea, ela não terá boas condições na nova
vida (Tikunei Zohar 69, folha 100b).
Uma pessoa que matou
alguém poderá trazê-la de volta em outra encarnação, como seu filho por
exemplo. Assim, da mesma que ela o tirou deste mundo terá de fazê-lo
regressar. (Ramak no livro Shiur Chochmá)
Uma pessoa que roubou
algo e não devolveu, os dois poderão voltar em uma nova encarnação, e o
furto será reembolsado (Gaon de Vilna, Mishlei 14,25). A alma da pessoa
que roubou não terá conserto até que reembolse o furto. (Chafets Chaim,
Sfat Tamim cap.4)
O Sábio Chaim Vital Z”l
escreveu que o seu mestre Ari Z”l lhe revelou suas encarnações
anteriores, e aquilo que ele viera consertar nesta nova encarnação.
Explicou, baseando-se em suas vidas anteriores, passagens importantes de
sua vida atual, e também certas características pessoais encontradas
nele próprio como conseqüência de suas outras vidas, e de que maneira
estava retificando cada uma delas em sua nova encarnação. (Shaarei Emuná
página 169-172)
Quando o objetivo da pessoa nesta nova encarnação é
cumprido, já não é necessário que ela siga vivendo. Explica-se aqui que a
morte não é um acontecimento ao acaso (Shaarei Emuná 165, com.4). Uma
pessoa que veio ao mundo com um objetivo específico pode acabar partindo
mesmo estando jovem, pois todo o objetivo de sua vinda a este mundo era
o de completar aquilo que estava faltando (introdução Shaar Haguilgulim
em nome do bem Ish Chai).
Nossos Sábios nos ensinam (livro Michtav MeEliahu, parte
4, página 120) que, hoje em dia, praticamente todos nós somos
reencarnações, ou seja, quase todos nós já vivemos em outra (ou outras)
vida(s), e regressamos para completar o que não foi feito, ou reparar o
que foi feito indevidamente.
Como poderemos saber o que viemos consertar e assim aproveitar esta nova oportunidade que nos foi dada?
Através de dois sinais podemos perceber a resposta:
a. Tentar localizar qual
é a transgressão (ato proibido pela Torá) que tendemos a cometer
muitas vezes. É preciso realizar um trabalho de auto-aprimoramento para
elaborar este aspecto;
b. Pensar qual foi a
transgressão cometida em que o desejo de transgredir tenha sido muito
forte; pois, uma vez acostumada a cometê-la durante a vida anterior, ela
passou a fazer parte da sua natureza.
Existe outro sinal que
pode ajudar a informar a quê viemos. Ao perceber um desejo especial em
cumprir um mandamento específico, ela pode concluir que justamente nesse
tema pode haver falhado em sua vida anterior, e que tenha recebido uma
nova chance para completar sua missão. Não se deve desistir de cumprir
este mandamento, e sim cumpri-lo de forma completa. Vários obstáculos
aparecerão para criar dificuldades, porém a pessoa deve vencê-los e
seguir firme em seu caminho. (Shevet Mussar cap.1, 13 e 14)
Para permitir a
reparação dos erros cometidos em sua vida anterior, a pessoa será posta à
prova nesta encarnação nos mesmos temas em que falhou anteriormente e,
caso consiga passar pelas provas com êxito, também consertará o erro
cometido em sua vida anterior. (Shaarei Emuná 170 comentário 10).
PRIMEIRO ARTIGO SOBRE O ASSUNTO PUBLICADO EM JUNHO DE 2011 NA RUA JUDAICA:
O judaísmo não preconiza o conceito de a vida após a morte e não considera viável a reencarnação.
Mentira: A base do judaísmo e da prática da Torah gira em torno
da continuidade espiritual em uma outra dimensão. Segundo a Torah, em
inúmeras fontes, Deus decide quantas chances, e quantas reencarnações,
cada pessoa terá para completar sua meta. Neste mundo tudo permanece
oculto — aquele que faz uma
mitzvá (cumpre um ato positivo), ou uma
averá
(uma transgressão) permanece idêntico na superfície; não é possível
distinguir pela face quem é um assassino e quem é um benfeitor. A
própria palavra em Hebraico para "mundo" — OLAM — vem da raíz NEELAM,
que significa oculto.
(Adaptado do livro "O Místico" especialmente a Rua Judaica, por Fernando Bisker, Miami)