Buda ficou mais velho
Descoberta arqueológica na cidade onde
nasceu Buda, no Nepal, antecipa em 300 anos a data de seu nascimento e
pode mudar a história do budismo
João Loes
Quem visitou o templo de Maya Devi, na
cidade de Lumbini, no Nepal, entre os meses de janeiro e fevereiro nos
últimos três anos viu mais do que se costuma ver neste que é um dos
destinos mais visitados por fiéis do budismo no mundo. Nesse período, em
meio ao sítio arqueológico, que é a principal atração do templo e
guarda registros dos primórdios da religião, um time de 40 arqueólogos
trabalhou para descobrir o que o espaço ainda tinha a revelar. As
esperanças eram grandes. Segundo a tradição, foi em Maya Devi,
reconhecido em 1997 como patrimônio mundial pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que Sidarta
Gautama, o Buda, nasceu. “O que acabamos encontrando foi o templo
budista mais antigo de que se tem notícia”, anunciou o arqueólogo inglês
Robin Coningham, da Universidade de Durham, que liderou os trabalhos
com apoio da National Geographic Society, dos governos japonês e nepalês
e da própria Unesco. “Segundo cálculos feitos na madeira de sua
estrutura, ele data do século 6 a.C.” Os resultados foram publicados no
jornal acadêmico de arqueologia “Antiquity”, um dos mais respeitados do
mundo.
Até o achado da equipe de Coning-ham, supunha-se, com base em
levantamentos arqueológicos e textos e relatos que sobreviveram ao
tempo, que Gautama tivesse nascido entre os séculos 3 e 4 a.C. Agora, a
data precisa retroagir em até 300 anos. “A descoberta provoca um
recomeço de tudo o que sabemos sobre o início da religião budista”,
aposta o arqueólogo, que fez as datações do material encontrado com
técnicas consagradas como a fosforescência e o decaimento de carbono.
Nem todos, porém, concordam com essa conclusão de Coning-ham. Para Frank
Usarski, coordenador da pós-graduação em ciências da religião da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), embora Buda seja
mais velho do que se pensava, Lumbini pouco mudou entre os séculos 3
a.C. e 6 a.C, ou seja, o contexto histórico era semelhante. “A região
passava por uma profunda, mas perene mudança socioeconômica que se
manifesta com força semelhante tanto na data antiga quanto na nova”,
argumenta ele, que também é autor do livro “O budismo e as outras” (Ed.
Ideias & Letras, 2009).
PEREGRINAÇÃO
Monges no sítio arqueológico onde foram encontrados
restos do templo mais antigo do mundo
Usarski defende que o maior impacto da descoberta, se ela for
confirmada pela comunidade científica, é na credibilidade dos primeiros
escritos da religião, que datam do século 1 a.C. Em registros antigos, a
distância temporal entre a produção de um documento e os fatos que ele
narra costuma servir de termômetro para sua credibilidade: quanto mais
próximo, mais fiel; quanto mais distante, menos fiel. A lógica é que,
até a produção do documento, a história é repassada oralmente e está
sujeita à subjetividade de quem faz a narração. “Se o Buda nasceu 300
anos antes do que se imaginava, os relatos escritos de sua história
passam a estar 300 anos mais distantes dos fatos que eles narram”,
afirma Usarski.
TENAZ
Robin Coningham liderou equipe de 40 arqueólogos durante os
rigorosos invernos do Nepal para fazer a descoberta
Ainda não é possível mensurar como a descoberta do mais antigo templo
budista do mundo pode afetar o entendimento que se tem da religião
atualmente. “Se é que o templo é budista”, diz Rodrigo Pereira da Silva,
especialista em arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém e
professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). A
afirmação de Silva faz eco às dúvidas que outros especialistas pelo
mundo têm externado sobre a descoberta. Sabe-se, por exemplo, que na
região de Lumbini templos nos moldes do que foi encontrado eram muito
comuns e não necessariamente budistas. “Algum tipo de identificação se
faz necessária para chegar a esse tipo de conclusão”, diz Silva. A única
certeza é que o trabalho de Coningham em Lumbini, tido como rigoroso
por seus colegas de arqueologia, é mais uma peça nesse gigante
quebra-cabeça.
Muito interessante.
ResponderExcluirQuando eu era ainda muito novo (3 anos) minha avó, que já era orientalista de longa data (era escultura - Nancy Godoy - conhecida na Academia Brasileira de Belas Artes), convenceu minha mãe a tornar-se budista.
Ambas apoiaram e ajudaram a financiar a Sociedade Teosófica do Brasil e, logo em seguida, ajudaram na fundação da Sociedade Budista do Brasil e na aquisição de um terreno na Colina de Santa Teresa, no Rio de Janeiro.
Em 1970, o Brasil, em plenos anos de chumbo, tornou-se um lugar asfixiante.
Fomos morar na Índia, mas, de passagem, ficamos em Londres, tempo suficiente para assistir ao lançamento do último filme dos Beatles, sobre o disco Let It Be.
Na mesma semana desembarcamos em Nova Dhelli, onde moramos algum tempo na embaixada do Brasil. Logo em seguida, fomos para o Taj Mahal, Benares e fixamos residência, temporariamente, na Universidade Vishva Baharati, em Burdwan, perto de Calcutá.
Alugamos uma casa em um parque, que pertencia ao filho do fundador da universidade, o poeta Tagore.
Continuamos perambulando para o sul, visitando os templos de Konarak e Kajuraho.
Acabamos parando em Madras (Madurai), onde moramos por algum tempo na Soc. Teosófica de Madras.
A intenção era ir morar em um templo budista no antigo Ceilão (atual Sri Lanka), onde o monge que presidia o templo no Brasil, o Venerando Anuruda, formara-se.
Deu tudo errado, pois minha avó, no Brasil, adoeceu e tivemos que voltar às pressas.
De passagem, ainda ficamos alguns dias em Budh Gaya, onde minha irmã teve a ousadia (era uma menina de 11 anos apenas) de arrancar uma das folhas da árvore do Budha.
Muitas lembranças da infância, mas isso já faz muito tempo!